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A alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende

  • Foto do escritor: Gabriela freire freitas
    Gabriela freire freitas
  • 1 de dez. de 2022
  • 8 min de leitura

Atualizado: 2 de dez. de 2024

A música é a arte perfeita que exprime os sentimentos dos seres imperfeitos


Fotografia retirada do Instagram/ @lucasocriador
Fotografia retirada do Instagram/ @lucasocriador

A música está presente em todos os componentes da vida do ser humano, ela pode ser o refúgio em momentos difíceis e nos momentos felizes, ela pode ser o mar de sentimentos que faz transbordar de dentro para fora, ela pode ser a forma de transparecer uma ideia, um pensamento, uma situação e até mesmo transparecer o que se passa no interior e no exterior de cada um. A música pode ser tudo, pode ser um sonho e até mesmo o sustento de alguém. 


A vida pode ser caótica. Acordar cedo sete vezes por semana, pegar ônibus lotado (e às vezes ele até quebra no meio do caminho), metrô com velocidade reduzida e, de pano de fundo, xingamentos e mau humor daqueles que estão com pressa para as suas obrigações, e descontam suas frustrações no governo e até mesmo nas outras pessoas. A reflexão da música dos Racionais MCs passando pela mente e a realidade coincidindo - literalmente, o mundo é diferente da ponte pra cá. Se olharmos para todo esse caos, a música está presente, não? Olhe para a pessoa ao seu lado e veja o fone no ouvido. Ali está presente a música, e a tranquilidade no mundo interno a acompanha, pois a música tem o poder de transparecer uma calmaria no meio de tanta crueldade. 

  

A música quebra barreiras sociais, culturais e até mesmo econômicas, atuando em diferentes cenários da sociedade brasileira - muitas pessoas têm o primeiro contato com a música no nascimento (ou até mesmo antes). Os familiares podem conviver com a música, podendo ser musicistas, cantores, ou a acompanhando na igreja ou mesmo nos fones de ouvido. A sociedade e a música sempre estiveram intimamente conectadas. Ela reflete e cria condições sociais, incluindo os fatores que facilitam ou impedem uma mudança social, mas sabe por que isso acontece? A música ultrapassa a comunicação em palavras, ela pode compartilhar e promover o desenvolvimento de diferentes grupos, de diferentes etnias, opiniões políticas e até mesmo gostos musicais. Ela é poderosa em um nível individual pois induz as pessoas a estímulos múltiplos (psicológico, de movimento, emocional, temperamental, cognitivo e comportamental, por exemplo). Para cada indivíduo, a música tem um significado, e no olhar do jovem Lucca Santos, um cantor independente do interior do Rio de Janeiro, a música pode abrir caminhos e ajudar a sair de momentos difíceis:


“A música, para mim, é o meu refúgio, e ela me ajudou a sair dos momentos mais difíceis e retornar a ser quem eu era”.


CANTORES INDEPENDENTES, SUA LUTA POR RECONHECIMENTO E PARA ROMPER AS BARREIRAS SOCIAIS

 

 As plataformas digitais são hoje o maior meio de divulgação de novos talentos musicais. Os serviços de streaming têm servido de trampolim para artistas independentes, como Lucca Santos, Íris Ubaid, Vilu e Izzie, que cresceram no Tiktok e no Instagram.


Segundo um levantamento recente realizado pela Associação Brasileira da Música Independente (ABMI), artistas ligados a gravadoras e selos independentes, além dos autoproduzidos, representaram 53,5% do TOP 200 do Spotify durante 2020. Esse dado vem ao encontro das pesquisas do Kantar Ibope Media, que mostram que 73% dos usuários da internet aumentaram o consumo de plataformas digitais em meio à pandemia de Covid-19 em 2020. Bem como estudos encomendados pelo Itaú Cultural e pelo Datafolha, sobre os novos hábitos de consumo virtual de cultura dos brasileiros, demonstraram que 84% dos entrevistados afirmam escutar canções pela rede.


Por mais que seja difícil crescer nas plataformas digitais, os quatro jovens artistas entrevistados para essa reportagem (Lucca Santos, Íris Ubaid, Vilu e Izzie) não se deixaram abater, e seguem persistentes em uma batalha diária entre o mundo externo - conseguir influência, conhecimento e crescimento - e seus próprios mundos internos. 


A maior dificuldade dos jovens artistas independentes periféricos costuma ser a própria situação financeira, pois para manter os equipamentos e até mesmo correr atrás de conhecimentos complementares para crescer na carreira musical é necessário dinheiro e, querendo ou não, uma grande influência. Além disso, o artista independente tem uma sobrecarga maior de funções. Ele precisa se dividir e acumular vários papéis - ser seu próprio empresário, seu próprio social mídia, seu próprio produtor. Precisa se gerenciar, e com isso acumula desgastes físico e mental, sendo, muitas vezes, frustrante e desestimulante seguir pelo caminho da música. Com o aumento do consumo das redes sociais, também surge mais um desafio para esses cantores: o aumento da concorrência e da competição, pois todos precisam se sobressair em meio a um incontável número de cantores que se lançam na carreira diariamente.



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Fotografia retirada do Instagram/ @souvilu

Mas as facetas das músicas são imensas, e algumas delas despertam sentimentos e podem ajudar a descobrir quem você realmente é. Foi o que aconteceu com o jovem Vilu, que descobriu sua sexualidade (e, nas palavras dele, até mesmo quem é) por meio da música, que o estimulou a lutar pelos seus direitos, não só como parte da comunidade LGBTQIA+, mas também como jovem negro, periférico e que quer ser muito mais do que sonhou ser um dia. “A música me ajudou a descobrir quem eu sou, me ajudou a me assumir para minha família e me ajudou a continuar a ser quem eu sou, sem me perder”, diz Vilu. 


A música também pode construir muros, ao mesmo tempo que ela é um refúgio e é reconfortante estar dentro do próprio mundo com ela presente, ela pode se tornar uma barreira para a realidade. Lucca Santos é um jovem do interior do Rio de Janeiro, e isso aconteceu com ele. Seu mundo só era completo se tivesse música. Aonde ele ia, os fones e o celular o acompanhavam tocando alguma coisa que lhe fizesse sentir completo, mas, como nem tudo é um mar de rosas, a família de Lucca enfrentava um período difícil financeiramente, e ele só foi descobrir isso quando saiu do seu próprio mundo interno e encarou a realidade de frente. A realidade pode ser dura, mas por mais difícil que seja, Lucca fez de uma das piores fases da sua família e de sua própria, uma base para crescer, decidiu que seguiria no rumo da música e ajudaria a sua família a se reerguer e fazer o que ama. A música ajudou o Lucca a se descobrir como um indivíduo forte e corajoso, determinado, pois foi com a música que ajudou a sua família e ainda ajuda todos os dias, com os vídeos nas plataformas digitais e com a determinação de que tudo vai melhorar.


Ser um músico independente é difícil, porém é libertador, não só na música mas em todas as formas de expressar os sentimentos e tudo que se é. Faz a pessoa se sentir viva, sentir liberdade, como relata a cantora e compositora Íris, de Volta Redonda, Rio de Janeiro. Para ela, a música dá forma em algo interno e externo, transforma em arte todo o seu ser e trabalhar da melhor forma possível consigo mesma e com a arte musical. “Eu escrevia sobre mim, sobre o que eu queria, sobre o que eu queria fazer da vida, sobre uma jornada e os meus sonhos” pondera Irís.


A música pode ser o mundo de alguém, um refúgio, como foi para esses quatro jovens. Nós cantarolamos músicas durante o caminho do trabalho e da faculdade, mudamos a letra da música para nos entreter, fazemos pequenas canções para as pessoas que amamos e demonstramos de todas as formas possíveis os nossos sentimentos. A música reúne reflexões, pensamentos, sentimentos e tudo que há de bom e de ruim em nós e no mundo. Quem nunca teve a experiência de se sentir envolvido com o transcendente, ao ouvir ou contemplar uma obra de arte?


A EDUCAÇÃO E A MÚSICA

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Fotografia da Orquestra Filarmonica Carlos Gomes (retirada do Instagram/ @orquestrafilarmonicacg)

Todo mundo ama ouvir, dançar, cantar, tocar música e a quer por perto, podendo ser essencial para todos os âmbitos da vida, e na educação não seria diferente. Além de incentivar uma maior concentração, ela tem o poder de desenvolver o lado cognitivo de quem a ouve, e oferece diversos benefícios educacionais.


 Ao longo da história, a música tem carregado consigo uma bagagem de informações, aprendizados e transmissão de cultura.


As instituições de ensino - sendo elas de música ou educação básica - são mediadoras e formadoras, que possuem um dever de desenvolver em seus alunos um autoconhecimento, de forma que traga suas percepções e dons que cada um possui, visando assumir seu papel diante a sociedade.


Como aproveitar a influência musical na educação? Onde encaixar os distintos gostos, diante a dinâmica educacional, com um currículo supostamente pronto? Como digerir e filtrar toda esta cultura musical que está por trás dos muros?


Primeiro, deve ser entendido que a música não é só uma combinação de ritmo, harmonia e melodia, que, dependendo do gosto, é agradável ao ouvido. A música é uma manifestação artística e cultural capaz de promover ressocialização, identificação e crescimento, sendo uma forte ferramenta de auto-afirmação e de identidade própria para jovens, adultos e crianças.


“Estar na frente de um projeto como esse, é uma troca de experiencias tanto para os jovens que estão aqui, quanto para mim”

É importante que tanto os educadores quanto os estudantes reconheçam a liberdade de expressão que se carrega em cada fone de ouvido, reconhecer que a música faz o indivíduo mais humano e criativo, revelando emoções reprimidas. "Trabalhar com música é complexo, mas é preciso dar a ela o valor que ela tem e reconhecer o poder de transformação que ela carrega'', diz o violonista Marcos Vinicius da Orquestra Filarmônica Carlos Gomes.


Instituições como as Fábricas de Culturas, Orquestras Filarmônicas e as Associações beneficentes que usam a música como um instrumento educacional transmitem aos seus alunos o sentimento de pertencimento. Tanto a Fábrica de Cultura e a Orquestra Filarmônica Carlos Gomes quanto a Associação Beneficente trabalham em prol do bem estar do aluno (tanto mental quanto físico), se dedicando diariamente para que seus educadores se atualizem em relação ao estudo da música, para que não se torne um mero pretexto de ensino. “Estar na frente como um projeto como a Filarmônica Carlos Gomes regendo, ensinando, corrigindo, orientando e também aprendendo com os jovens, pois, como sempre digo, esse projeto é uma troca de experiências, que temos com esses jovens

é algo gratificante [..] trabalhamos com seres humanos e esse projeto tem como objetivo incentivar e ser um trampolim para eles conquistarem o que sempre desejaram” comenta regente e coordenador Eron Calabrezi da Orquestra Filarmônica Carlos Gomes.


Trabalhar com música no processo de aprendizagem é complexo e difícil, porém maravilhoso e inspirador ao mesmo tempo, mas, assim como a música, os educadores devem se basear nas correntes de conhecimento e cultura, que, em cada partitura, nota, refrão, melodia é presente e fazer o que eles fazem de melhor: educar para a vida.


E o que a música é para você?


Fotografia retirada do Instagram/ @oficializzie
Fotografia retirada do Instagram/ @oficializzie
"COM A MÚSICA EU VOU FAZER A DIFERENÇA!"

Sabemos que a música nos companha onde formos, se olharmos para o lado sempre vai ter alguém com um fone no ouvido preso em seu próprio mundo e refletindo em cada nota. A música pode nos levar além e isso não tem preço, devemos dar valor a cada músico que nos dar o prazer de ouvir cada melodia e refletir com cada letra, temos que dar valor a aqueles que com palavras, rimas, acordes trás um pouco de paz para um cotidiano pesado. A música ela é uma filosofia inexplicável que cada um leva pra si da maneira que faz sentido pra si e para o seu próprio mundo.


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